Porquê eu escolhi transferir o meu título de eleitor
Transferir o título de eleitor para o exterior pode ser uma escolha racional. Mas, no meu caso, ela foi feita com o coração.
Em questão de Burocracia, a transferência do título implica em uma série de vantagens. Votar só de 4 em 4 anos, só votar para presidente, estar quite com a justiça eleitoral e não ter mais o trabalho de justificar o voto a cada volta ao Brasil. Quando você transfere o título, automaticamente, toda a nossa dívida com a justiça eleitoral é quitada. Olhem quanta facilidades! Para nós, que vivemos no exterior, isto é um alivio na hora de renovar o passaporte e um problema a menos. Por isto, eu poderia ter pensado em todas estas vantagem na hora da transferência.
Vou confessar que nem pensei! Quando entrei no avião, decidia a morar em Barcelona, também estava decidida a transferir meu título. Não votar nem passava pela minha cabeça. Mesmo que fosse só para presidente. Cresci em uma família cuja política sempre foi assunto em casa. Pai jornalista, mãe professora de história e geografia, os dois não tinham como não educar os filhos politicamente. Desde que comecei a votar, lá aos 18 anos, só justifiquei uma vez na minha vida. Ok, tudo isto tem sentido quando se está no país e fora dele?
Morar fora não significa virar as costas para o Brasil. Pelo contrário! O Brasil é o meu país, é aonde mora a minha família e o meu povo. Eu desejo o melhor para o Brasil. Que seja um país rico, forte e com justiça social. Se engana quem pensa que todos os brasileiros deixam o Brasil porque não gostam da Pátria. Eu amo meu país e só sai dele por amor a uma pessoa. Meu amor pelo Brasil está tatuado na pele e por ele vou lutar mesmo estando fora. Quem ama, não abandona.
Tenho muitos amigos que moram em Barcelona e por pura preguiça ou falta de interesse não transferiram o título. Me dói está postura. Quando se aproxima as eleições tento convencer-lhes do contrário. Nem sempre consigo, porque o desinteresse muita vezes é maior. Eu acredito que votar não é uma obrigação e sim um direito! Um dos mais poderosos que temos. Quanta gente lutou por este direito e morreu por ele? Não deveríamos votar só para honrar os mortos, mas para honrar a nós mesmos. Reclamar do Brasil cada vez que voltamos de uma viagem de visita à família não resolve. Isto é muito fácil. Difícil é ter responsabilidade com ele. Eu acredito que temos que fazer a diferença nas urnas. Só ali é que vamos conseguir a mudança desejada. Tem gente que se cansa e tira a toalha. Eu não! Quando fui mesária em 2010, na minha sessão, votou um senhor de mais de 80 anos. Isto me faz acreditar nos brasileiros no exterior e na certeza que não devemos abandonar nosso país.
Transferir o título é uma forma de se livrar de toda a burocracia que as leis nos impõem, é ficar quite com a justiça eleitoral. Para mim é muito mais que isto, é ficar de bem com o Brasil e comigo mesma.
Infelizmente nem todos são verdadeiramente “livres” pra pensar dessa maneira. Para que um homem seja realmente livre, de acordo com James S. Mill, ele deve ser consciente do seu entorno socioeconômico e político. Foi o que você falou, seu processo de socialização te permitiu pensar e atuar politicamente de maneira ativa, com vontade participação ativa no sistema político brasileiro. Porém sabemos que nossa cultura política brasileira é pobre, muitos não tiveram a sorte que você teve de nascer numa família de ilustrados, temos que ser conscientes de que não nos formam em história pra entender as causas e consequências reais da nossa participação política. Lembro estudar história e geografia pra memorizar datas e acontecimentos. Sempre achei um absurdo ter que memorizar algo e aceitar a verdade uma verdade absoluta. Infelizmente acho que nossa educação em ciências sociais é precária e isso influencia muito nosso comportamento político. (Minha humilde opinião)
Parabéns pela sua reflexão.
Rodrigo Vidal
Rodrigo,
Concordo. Crescer em uma família onde a política era assunto corriqueiro fez toda a diferença. Ter estudado história também me ajudou a ter uma posição política e gostar do tema. Infelizmente, em nosso país, as autoridades sempre preferiram a ignorância política do povo para seguir manipulando as eleições e resultados, vamos lembrar da política de cabestro. Mas, infelizmente, também acho que política não é apenas uma questão de educação e sim de postura no mundo e de preocupação com o lugar onde vc vive e de onde vc é. Muita gente não tem esta postura e nem esta preocupação. O que estas pessoas não entendem é que política não é algo que não faz parte da nossa vida, política é a vida. E se não entendemos nada, pelos menos temos que tentar fazer parte do processo de melhoria da nosso país. Que passa por muitos setores, entre eles a política e o voto.
Obrigada pela reflexão e comentário.
É isto ai, o brasileiro consciente e que quer ver o seu país desenvolvendo-se, pode muito bem fazer do voto, sua arma, para as mudanças necessária que o país necessita.
Concordo plenamente!!
Beijo, Doro!