E esta tal independência da Catalunha?
Uma bandeira nas janelas chama a atenção. Ela não se parece com nenhuma bandeira dos países que estudamos nas aulas de geografia. A pergunta fica na garganta até que o turista encontra alguém que mora em Barcelona. Então a coragem sai pela boca e se transforma em perguntar: e esta bandeira com um triângulo e uma estrela de onde é? Vou te contar a história que esta bandeira leva nas suas listras. Uma história de amor por uma terra, por uma língua que se traduz em uma palavra: independência.
Quando o Império Romano caiu, em 476, os Visigodos entraram no noroeste da Espanha, dando início a uma nova organização política e territorial. Com o passar dos anos, os mouros invadiram a península ibérica chegando a se instalar em Barcelona. Os Carolíngios expulsaram os mouros e aqui instalaram um condado, a cargo do conde Gifré. O tal condado se tornou independente do Império Carolíngio e assim nasceu o condado de Barcelona.
Um casamento entre o conde de Barcelona e a filha do rei de Aragão fez nascer a Coroa de Aragão. Diferente do que se pode pensar, os catalães não perderam a liberdade e sim ganharam autonomia. No trono desta coroa se revezavam catalães e aragoneses, até que o Rei Martín, o Humano, morre sem deixar herdeiros. Assume seu sobrinho de Castilla e a partir de então o condado da Catalunha começa a perder autonomia, é submetido a Castilla, até ser anexado definitivamente ao Estado Espanhol.
Toda esta história de reis e condes serve para explicar o argumento histórico dos independentista catalães de que a Catalunha já nasceu livre. Durante a história da Catalunha as tentativas de submissão dos catalães não pararam por aqui. Em 1714, quando Felipe V assume o trono da Espanha, depois de uma longa guerra de sucessão, as instituições catalãs são abolidas, a língua catalã proibida e no coração de Barcelona uma fortaleza militar foi construída. Em 1936, uma nova guerra explode no território espanhol. Desta vez dois bandos lutam entre si: nacionalistas e republicanos. Ganham os nacionalistas, Franco assume o governo, instaura uma ditadura, e por 36 anos os catalães voltam a ter sua autonomia surrupiada.
O fim do Franquismo abre um novo debate político e desta vez a restauração da monarquia promete benefícios aos catalães, que não foram cumpridos. Atualmente, os políticos daqui se queixam que o Estado Espanhol menospreza a singularidade catalã e ao mesmo tempo institui leis para diminuir o ensino da língua catalã nas escolas.
Economicamente, a Catalunha é a terceira comunidade autônoma com a renda per capita mais alta da Espanha. Mas, na hora de retornar o dinheiro para as comunidades, os catalães não recebem tanto quanto arrecadaram.
Entendendo os motivos históricos, políticos e econômicos é hora de entender o que é a tal consulta que todo mundo está falando. Uma consulta (plebiscito) não é um referéndum. A diferença entre os dois é tênue. O primeiro quer a opinião do povo para a partir dela tomar uma decisão e o segundo pede que os eleitores ratifiquem uma determinada norma.
Desde o início do ano que se está organizando uma consulta popular na Catalunha para saber a opinião geral sobre a independência. Todo mundo fala disto pelas ruas. Quando as famílias se reúnem, o tema independência faz parte das conversas pós almoço ou jantar. Todo mundo tem um amigo/a independentista e com frequência vemos manifestações pelo direito de decidir. O direito de decidir! É isto que querem o catalães. Um direito que o governo espanhol não quer dar e considera desobediência civil.
Neste momento, os catalães se preparam para o 9N (9 de novembro) quando a grande maioria irá a rua para manifestar a sua opinião, seja sim ou não. Não sabemos se as urnas estarão nas ruas, mas sei que o povo e suas bandeiras estarão. Eu também posso votar, pois é uma consulta popular, e vou fazer parte deste movimento com muito orgulho.
Agora que você já sabe um pouco sobre todos este burburinho pode dar a tua opinião!
Será que em novembro, depois da declaração de independência, teremos problemas com a segurança em Barcelona e valência? Temos uma viagem agendada para o início do mês. Peço ajuda pra me deixar mais atualizada como está a cidade. Abraço Renata
Olha, sinceramente, não sei nem o que te responder. Não faz nem 24h que tudo aconteceu. Por aqui ainda estamos de luto depois da violência inesperada da polícia espanhola. Aqui o dia amanheceu como sempre e a vida segue a sua normalidade.
Te convido a seguir o blog nas redes socias onde sempre estou atualizando com informações da cidade! 😉
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abs
Muito instrutivo o texto, obrigada por compartilhar de forma didática essas informações.
Desde a nossa ótica brasileira, esse assunto do plurilinguismo e plurinacionalismo espanhol me parece muito complexo e interessante.
E claro, vivendo agora fora da Catalunha, você bem pode imaginar as opiniões que escuto sobre o tema, não é?
Mas respeito todas elas, escuto com curiosidade e assisto com interesse a questão.
Abraços querida, e até loguinho
Só imagino o que vc escuta. Tem muitos espanhóis que não gostam da ideia da independência. Obrigada pela comentário! Nos vemos logo. Beijo
bom texto!!
Cristina! que lindo me emocionei! Tu és uma fonte preciosa de informação!
Parabéns! beijos!
Rita
:D! Obrigada, Rita. Bom saber que te tocou. Beijo!!!!
Dia 09 está chegando…
Estaremos lá. Só vivendo aqui e querendo entender o sentimento catalão pra poder respeitar esse direito à consulta.
É Mônica, só vivendo aqui para saber e sentir.
Obrigada pela visita.
Beijo